"e lá vai Deus sem sequer saber de nóssaibamos pois estamos sós"
Poucos lançamentos nacionais foram tão aguardados em 2008 quanto o album Sou.
E desses poucos, raros foram os que valeram todo o hype.
Aliás, não apenas em 2008.
Desde que o Los Hermanos lançou o Bloco do Eu Sozinho e passou a ser um grupo respeitado no meio musical, o principal letrista da banda Marcelo Camelo já era celebrado como a grande revelação da MPB. Consagrado ao ser gravado pela Maria Rita (com Cara Valente, Santa Chuva e Veja Bem, Meu Bem no seu primeiro album, e com Casa Pré-Fabricada e Despedida no segundo), todos queriam ver até onde ia o talento do barbudo. Os albuns seguintes do Los Hermanos confirmou ou que já era claro: suas composições estavam cada vez mais calmas, saindo do rock e encontrando o banquinho e o violão.
Com a pausa dada pelo seu grupo, o cara não demorou para começar aquilo que todo ser com dois ouvidos funcionais estava esperando...
Seu vôo solo.
O album Sou (vire a capa do CD de ponta cabeça e - tadáááá - surge a palavra Nós) chegou às lojas no começo do mês.
E se ainda existia a pergunta "será que valeu a pena?" na cabeça de Marcelo Camelo, eu digo em alto e bom som, com todas as letras:
CLARO QUE VALEU!!!
E MUITO!!!
Com melodias poderosas e letras econômicas (como se seguisse o legado deixado por Dorival Caymmi), Camelo cria em 12 faixas (sem contar as duas "reprises" finais) a MPB perfeita.
Seja com o agito de Copacabana e Vida Doce, seja com a beleza leve de Janta (com a Mallu Magalhães).
Seja com o minimalismo de Saudade, seja com a sanfona de Liberdade (tocada pelo mestre Dominguinhos).
Seja com a simplicidade de Menina Bordada, seja com um certo experimentalismo de Téo e a Gaivota.
Seja cantando sobre a solidão, a menina bonita ou os velhinhos do Bairro do Peixoto.
O músico soube dosar bem a melancolia e a alegria, não deixando o disco cair na mesmisse e criando um repertório até bem diversificado. Janta é um folk guiado por dois violões, Mais Tarde mostra Camelo acompanhado pela banda Hurtmold e Copacabana é uma espécie de marchinha que já concorre desde já como melhor música do ano - pelo menos na minha lista.
É impossível não perceber o quanto o compositor se sente à vontade tocando essas canções, mostrando sua real face e mostrando o quão perfeita foi a escolha do nome do album.
Mas claro que o disco exibe falhas.
Sua versão de Santa Chuva, ainda que bela, não consegue se equiparar à versão criada por Maria Rita. Mesmo assim, é uma das melhores composições de Marcelo Camelo, obrigatória em seu vôo solo.
Doce Solidão, apesar de simpática, acaba ficando repetitiva e cansativa no decorrer de seus 4 minutos e meio.
Os "sons ambientes" colocados por Camelo entre algumas músicas não mostra nenhum propósito (a não ser o som do mar após Vida Doce, que consegue ser de uma beleza simples e singular).
Além disso, uma chatisse minha foi o fato de ter escutado primeiro as músicas disponibilizadas antes do lançamento do CD (e gravadas em um CD pela Renatinha, que me ajuda em assuntos tecnológicos)... desse jeito, ainda não consegui aceitar inteiramente a sequência musical do CD oficial. Copacabana, que eu julgava ser a úsica de abertura ideal, é a faixa 11. A sequência perfeita Janta e Liberdade não existe oficialmente, substituida por... bem, algo mais sem graça!
Como eu disse, pura chatisse minha.
Ainda assim, Sou consegue NÃO ser chato durante toda sua quase uma hora de duração.
Um disco que não é de difícil entendimento, mas que mesmo assim deve ser ouvido com cuidado, sem se deixar enganar pela sua aparente simplicidade.
Compare Anna Júlia com qualquer canção desse novo albúm e vc perceberá que "simplicidade" não é uma palavra que cabe no vocabulário de Marcelo Camelo.
Sorte a nossa...
PS: engraçado ver que, enquanto o Camelo vai se tornando um dos principais nomes da MPB, seu parceiro Rodrigo Amarante segue para o sucesso no exterior.
No MySpace da sua nova banda, Little Joy (que conta também com o batera do Strokes, Fab Moretti) já dá pra ouvir 3 músicas.
Dá uma conferida por lá -
http://www.myspace.com/littlejoymusicAh, e só posso dizer que são eeeeextra fodas!!! =P